A Vuong 1 é uma réplica perfeita de uma lancha histórica e preciosa: a italiana Riva Super Aquarama. E praticamente feita aqui mesmo.
Apenas 203 unidades da lancha italiana Riva Super Aquarama foram construídas, de 1963 a 1971. Toda em madeira, era — e ainda é — sinônimo do mais puro glamour. Nos anos 60, o produtor de cinema Dino de Laurentis tinha uma. O ator Peter Sellers e o estilista Ralph Lauren, também. Comprar uma hoje? Quem sabe em um leilão da Christie’s ou da Shoteby’s, onde costumam ir parar as raridades. Mas há uma alternativa e aqui mesmo, no Brasil: a Vuong 1, réplica fiel da Super Aquarama, vendida pela loja (e, agora, também estaleiro) Píer 22, de São Paulo.
A Vuong 1 é uma Riva Super Aquarama sem tirar nem por. Sua construção, feita em mogno, não esquece os detalhes originais do modelo, como os metais e o piso em madeira teca caprichada. Mas, no entanto, esta lancha, de 29 pés, tem uma história singular. Seu casco é construído na Indonésia, por uma família de artesãos vietnamitas, refugiados da guerra contra os EUA. A Vuong chega ao Brasil “vazia”. Aqui, a Píer 22 realiza, de forma artesanal, toda a montagem, item a item, respeitando o projeto original italiano, mas fazendo algumas atualizações tecnológicas muito bem-vindas, por sinal. Como os dois motores Mercruiser Mag 350 V8, a gasolina, de ronco mais que gostoso, que equipam o barco (e que também lhe conferem uma performance pra lá de empolgante).
Por fim, o comprador tem uma escolha a fazer: a do acabamento. Se quiser uma lancha ainda mais parecida com a Super Aquarama original, deverá optar pelo modelo “clássico”. Neste caso, a Vuong 1 virá equipada com vários acessórios feitos na Itália, pela própria família Riva, que detém até hoje os direitos de produção destes componentes, embora a marca tenha sido vendida, em 1996, para o Grupo Ferretti (no total, o projetista Carlo Riva produziu 796 lanchas ao longo da história da marca original). O preço será um pouco mais salgado, é verdade. Só para ter uma ideia, o volante original da Super Aquarama, fabricado pela família Riva, custa cerca de 3 000 euros. Assim sendo, o modelo “clássico” custará R$ 620 000, já com a motorização, obviamente. Já a outra versão, a “standard”, sem componentes Riva (mas com réplicas nacionais no lugar deles), sairá por cerca de R$ 100 000 a menos — ainda assim, uma lancha para poucos. Até porque só os realmente de bom gosto costumam dar o devido valor a uma Riva, seja ela original ou réplica.
Mas, no caso da Vuong 1, é preciso deixar claro que não se trata de um barco apenas de “exposição”, daqueles que ficam parados na marina quase o tempo todo, apenas para deleite dos olhos. Nada disso! Trata-se de uma lancha de fato e que navega um bocado. Navegamos com ela em águas abrigadas e também no mar (no dia, com ondas de até 1,5 m de altura) e gostamos do resultado. A Vuong 1 acelerou até os 20 nós em apenas 6,8 segundos e chegou à velocidade máxima de 38,3 nós — duas marcas notáveis para um projeto que, convenhamos, não é nada recente. Na sua velocidade de cruzeiro, que é de 30 nós, o casco não bateu uma vez sequer contra as ondulações: ele simplesmente “aterrissava” na água, após cada onda vencida. Mas, em compensação, pela falta de V mais pronunciado na popa, escorregou lateralmente quando navegando com ondas pelos bordos. Mas vale a ressalva de que esta lancha é para uso bem específico. Não tem perfil para encarar longas travessias, nem sair para o mar aberto. Sua vocação são os passeios em águas abrigadas e com, no máximo, cinco pessoas a bordo — bem pouco para uma 29 pés, mas perfeitamente adequado à época em que seu projeto foi desenhado. Só o tampo dos motores ocupa mais da metade do casco — e abriga um belíssimo solário —, o que explica o pouco espaço para as pessoas dentro do cockpit em bancos que lembram os dos antigos automóveis.
Mesmo assim, ao que parece, interessados não faltam. A Píer 22, que vem produzindo a Vuong I há dois anos, já pensa em aumentar a produção para quatro unidades por ano e, talvez, sem sequer importar o casco. O novo projeto é construir o barco inteiro aqui mesmo e com madeira brasileira, já que nosso mogno não fica nada a dever ao estrangeiro, muito pelo contrário. Deve ficar ainda mais parecido com a qualidade impecável da histórica Riva Super Aquarama. E que, agora, está de volta.
Fonte: Náutica Online.