História de Angra dos Reis.

     

    A história do município de Angra dos Reis percorre os "grandes ciclos econômicos" da história do Brasil. No início da colonização, esta foi uma região cobiçada por vários povos europeus na busca da exploração e contrabando de produtos tropicais. Geograficamente possuidor de uma costa marítima privilegiada, com uma grande baía e centenas de ilhas, o município era importante entreposto comercial para as grandes rotas marítimas que, vindas da Europa e/ou África, navegavam pela América do Sul, indo em direção a São Paulo, e as bandas do Continente do Rio Grande de São Pedro, como eram chamadas as terras localizadas no extremo sul do Brasil.

    Os antigos caminhos do povoamento do Brasil cruzavam estrategicamente a região e constituíam importantes estradas terrestres que, ao longo do período colonial, eram vitais para interligar as regiões de São Paulo e das Minas Gerais ao litoral do atual Estado do Rio de Janeiro. Rotas de tropeiros, percorriam as trilhas abertas na floresta, trazendo colonos, que geralmente fixavam-se nas melhores terras à beira dos caminhos, beneficiando-se, quando influentes, do sistema de sesmarias e da escravidão reinante.

    Nos primeiros duzentos anos, a região compreendida pelos atuais municípios de Angra dos Reis e Parati, viu desaparecer a cultura originária dos povos indígenas e assistiu à gradativa implantação de latifúndios escravistas voltados à produção de açúcar e aguardente, assim como gêneros alimentícios destinados à população. A pesca de baleia teve sua importância neste período.

    No início dos oitocentos, as conseqüências da descoberta do ouro em Minas Gerais e Goiás passam a afetar a localidade, que vê aumentar o tráfico de escravos africanos e a circulação de mercadorias pelo seu litoral e interior.

    Esta época viu surgir o famoso "Caminho Novo" estrada mandada construir pelo El-Rei de Portugal, que fazia a ligação por terra entre São Paulo e o interior da Minas Gerais, ligando estas regiões ao Rio de Janeiro, evitando assim o percurso marítimo antigo, via entreposto de Angra dos Reis e Parati, acossado por piratas e corsários ávidos pelo ouro e diamantes. Esta via possuía uma ligação direta com Angra dos Reis, através de Lídice e Rio Claro, impulsionando assim a prosperidade da região.

    No século XIX, o município e suas "paróquias" vivem períodos áureos proporcionados pelo café, como é exemplo da Vila Histórica de Mambucaba, que alcançou grande prosperidade econômica com a expansão da lavoura cafeeira e do comércio que alimentava o porto ali existente, chegando a possuir até um teatro.

    Com a construção da estrada de ferro D. Pedro II, por volta de 1864, e a posterior abolição da escravidão, temos um período de crise e decadência. Segundo Lia Osório Machado, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, " a construção da ferrovia foi fator de impacto mais imediato na região de Angra dos Reis. Rompia com os antigos parâmetros de localização e velocidade, ou seja, mexia com espaço e o tempo; mais concretamente, a ferrovia era capaz de transportar grandes quantidades de carga entre Rio de Janeiro e São Paulo, deixando para trás as antigas trilhas e estrada de barro, com suas tropas, cavalos e liteiras. Estas continuaram a ser utilizadas, porém perderam seu papel de transporte dominante".

    As matas voltaram a fechar as montanhas, ressurge, naquela região da Serra da Bocaina, um apogeu da vida selvagem. O nosso século, em seus primórdios, encontra uma economia de subsistência, uma população rarefeita nos inúmeros povoados caiçaras, dispersos em pequenas fainas de sobrevivência, como a pesca, o cultivo de cana, mandioca e banana, o fabrico de aguardente, cestarias etc.

    Os principais centros urbanos vêem sua população decrescida, com a saída de muitos em busca de terras mais próprias.

    O novo século manterá a tradição que diz que o município sempre esteve ligado aos grandes ciclos econômicos do pais. Com o fim da República Velha e a ascensão da Era Vargas, teremos a construção de um ramal ferroviário ligando Angra dos Reis a estrada de Com a política desenvolvimentalista de Juscelino Kubitscheck, a década de cinqüenta assistirá a construção do Estaleiro    Verolme, de capital holandês, no atual distrito de Jacuecanga. A indústria naval seria privilegiada pela interligação com a Companhia Siderúrgica Nacional na construção de seus navios metálicos e pela posição geográfica de nosso litoral. Este empreendimento, concluído em 1969, trará muito capital para região, com a vinda de muitos migrantes e a construção de vilas operárias, incrementando o comércio local e o crescimento da cidade.

    A década de 70 deslumbrará um novo período, uma época autoritária e excludente, que trará uma grande mutação à região, submissa aos desígnios da ditadura militar instalada no pais em 1964. A partir daí, Angra dos Reis se converterá em área de segurança nacional, perdendo a prerrogativa de eleger seus dirigentes e tendo seus movimentos sociais sufocados.

    Os militares tinham como meta a implementação de uma modernização autoritária do capitalismo brasileiro. Para este fim, desenvolvem programas de construção de grandes obras, algumas das quais implantadas em nosso município.

    A Usina Nuclear Angra I (1972-1980), o Terminal Petrolífero da Baía da Ilha Grande (1974-1979) e a Rodovia Federal Rio-Santos (BR-101) redefinem a cidade e seus espaços, causando uma série de transformações, como vinda de milhares de migrantes em busca de novas frentes de trabalho. O crescimento intenso da população e a expansão da cidade continuam nas áreas urbanas, gerando a ocupação desordenada dos morros do centro e adjacências, bem como a criação de grandes bairros periféricos.

    Nesta época, os empreendimentos turísticos, incentivados pela facilidade de acesso proporcionado pela construção da Rodovia Rio-Santos, iniciam o processo de ocupação dos melhores terrenos ao longo do litoral.

    Esse processo provocou inúmeras modificações na organização do espaço de nosso município, resultando em vários conflitos de terras e alijando a população caiçara, que foi obrigada a deslocar-se para áreas menos valorizadas, como os morros do centro e periferias distantes. Além disso, trouxe uma diminuição da área agrícola e do número de agricultores; passaram a ser comuns os aterros e a destruição dos mangues, fazendo com que surgisse uma grande demanda por obras de infra-estrutura.

    Com a reurbanização da orla central da cidade, a ampliação da pista do aeroporto para 1.200 m, a utilização sustentável dos recursos naturais principalmente da Ilha Grande e a valorização do patrimônio cultural, a consolidação da atividade turística como a principal fonte de recursos e geração de renda deverá ser o marco histórico que o final do milênio registrará para Angra dos Reis.

    Crédito: Projeto Memória & História - Prefeitura Municipal de Angra dos Reis

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